Ministério da Defesa estaria cobrando milhões da Funai caso queiram que indígenas comam, enquanto isso, cestas básicas continuam estocadas em Manaus e Boa Vista
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PAÍS | Uma publicação da Agência de Jornalismo Investigativo “Pública”, destrinchou o descaso do Governo Lula diante da situação dos Yanomami, denunciada ao mundo nesse semestre. O próprio presidente culpabilizou o governo anterior pelo que chamou de “genocídio dos indígenas”
Especialistas e lideranças indígenas já adiantavam que as visitas de ministros e até do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) a territórios indígenas eram com o intuito de aproveitar a pauta internacional. Agora, os fatos mostram que as Forças Armadas, da qual o presidente Lula é o atual comandante, cobra 4,8 milhões de reais para atender a Funai e entregar até dezembro, cestas básicas a indígenas Yanomami do Amazonas (AM) e Roraima (RR).
A reportagem da Agencia Pública denúncia que o Ministério da Defesa “cobra o pagamento de R$ 1,6 milhão a cada dois meses para poder entregar 5.318 cestas básicas por meio fluvial até os Yanomami que vivem em aldeias no lado do Amazonas na terra indígena”, tudo isso em meio a emergência sanitária que o próprio governo Lula estaria denunciando ao mundo.
A reportagem segue: “Indagado pela Agência Pública se não possui os recursos para fazer o trabalho, o Ministério da Defesa respondeu laconicamente em mensagem: “Não””.
“Com a ausência dos recursos, a entrega dessa parte das cestas básicas está paralisada. A ajuda militar é solicitada desde março pela presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana, sem sucesso. Ela já escreveu pelo menos três vezes ao chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, o almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire.
O militar primeiro pediu à Funai um “planejamento detalhado para análise da viabilidade” da operação, depois argumentou que as Forças Armadas precisam de R$ 1,6 milhão a cada dois meses. Entre um momento e outro, três meses se passaram sem que qualquer cesta tenha chegado às comunidades indígenas do Amazonas. Entregas pontuais têm sido feitas pela Funai com apoio aéreo, mas as cestas que deveriam ir por meio fluvial com o apoio militar não chegaram”, diz a denúncia.
“Em todas as comunicações, a presidente da Funai ressaltou “o grave quadro de fome e insegurança alimentar enfrentado por essas populações [indígenas] nos estados de Roraima e Amazonas”. Em março, Wapichana explicou que o pedido “se justifica dadas às condições de acesso extremamente difíceis e o perigo de retaliação por parte dos invasores, fazendo-se imprescindível o suporte logístico da instituição [Defesa] de modo a garantir a efetiva entrega dos alimentos às comunidades yanomami e a segurança dos agentes públicos envolvidos”, diz um trecho da reportagem.
As cestas estrariam estocadas em armazéns em Boa Vista (RR) e Manaus (AM) à espera de uma solução. Fotografias comprovariam grandes volumes de cestas sem distribuição.
A reportagem também aponta denuncia que 50 mil cestas básicas deveriam ter sido entregues por militares por via aérea a indígenas Yanomami do Amazonas e Roraima, de um total de 12,6 mil cestas por mês. “O plano foi apresentado em 10 de fevereiro pela presidência da Funai”.
O Ministério da Defesa respondeu que distribuiu até a última segunda-feira (19), “mais de 23 mil cestas”. O número corresponde a menos de 50% do plano original. Já um dos pedidos da Funai sobre o transporte fluvial das cestas no Amazonas é datado de 18 de abril.
“A presidente do órgão indigenista buscava o apoio da Defesa, possivelmente por intermédio da Marinha do Brasil, para, a cada dois meses, retirar 5.318 cestas de armazéns em Manaus e levá-las a barracões nos municípios de São Gabriel da Cachoeira (1.422 cestas), Santa Isabel do Rio Negro (1.206) e Barcelos (2.690). Joenia Wapichana propôs o transporte fluvial porque o meio aéreo “acarretará em grandes dificuldades, inclusive podendo comprometer outras operações em andamento no estado de Roraima e executadas por essa instituição [Ministério da Defesa]”, diz um trecho da reportagem.
A ideia da Funai seria que ao chegar os alimentos aos 3 municípios no AM, a própria Instituição realizaria com meios próprios a logística desses alimentos “diretamente nas comunidades e calhas”.
“Preponderante ressaltar que, além da logística saindo de Manaus, solicitamos os bons préstimos dessa instituição de modo a disponibilizar galpões/armazéns nas localidades de destino acima referenciadas, dado que não há nessas regiões estruturas adequadas para o armazenamento das cestas de alimentos”, escreveu a presidente da Funai.
Em 15 de maio, o almirante Renato Rodrigues de Aguiar Freire encaminhou a presidente da Funai argumentos sobre dificuldades da navegação aos 3 municípios do AM solicitados e em seguida uma conta.
“O transporte rodoviário de Manaus até o navio da Marinha custaria R$ 26 mil; a travessia de Manaus para Barcelos, em sete dias de viagem, custaria R$ 731 mil; de Manaus para Santa Isabel, em nove dias de navegação, R$ 871 mil. A conta se repetiria a cada dois meses para atender ao pedido da Funai, o que representaria um gasto de R$ 4,8 milhões até dezembro.
Com informações da Agência Pública*
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