Se aprovado pelos senadores, André Mendonça vai ocupar a vaga do ministro Marco Aurélio Mello, aposentado compulsoriamente neste mês, ao completar 75 anos de idade
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Manaus | AM | Agência Senado
Está nas mãos do Senado a decisão sobre o próximo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A indicação do nome do advogado-geral da União, André Mendonça, foi oficializada pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 13 de julho. Agora, caberá aos senadores, após a volta do recesso parlamentar, sabatinar o indicado e decidir se ele ocupará o posto.
Se aprovado pelos senadores, Mendonça vai ocupar a vaga do ministro Marco Aurélio Mello, aposentado compulsoriamente neste mês, ao completar 75 anos de idade. A indicação de Mendonça é a segunda feita por Bolsonaro — a primeira foi a do ministro Nunes Marques, em 2020 — e deve ser a última a ser feita neste governo, já que as próximas aposentadorias compulsórias só estão previstas para 2023. Se tiver o nome aprovado, Mendonça, que tem 48 anos, poderá ficar no STF por 27 anos, até se aposentar.
A indicação já foi enviada ao Senado, mas ainda precisa ser lida em Plenário. Depois, o indicado terá que passar por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ). A última sabatina para esse cargo, do ministro do STF Nunes Marques, durou dez horas. O parecer, aprovado ou rejeitado pela CCJ, seguirá para o Plenário, que decidirá sobre a indicação. Para que o nome seja aprovado, são necessários os votos da maioria absoluta, ou seja, de pelos menos 41 senadores. Os votos, tanto na comissão quando no Plenário, são secretos.
Doutor em Direito, Mendonça fez sua carreira no serviço público como advogado da União e também atuou como ministro da Justiça no governo de Bolsonaro. Na sabatina, assim como ocorreu com Nunes Marques, devem ser temas recorrentes a posição do indicado sobre prisão em segunda instância, foro privilegiado e a Lava Jato. Na avaliação da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), as respostas na sabatina serão decisivas.
“O currículo dele é bom. É um servidor que fez carreira na AGU (Advocacia-Geral da União) e que pode ter sua nomeação prejudicada por conta de toda essa polarização trazida pelo presidente da República. A sabatina, a depender das respostas que ele der aos senadores, será fundamental para a decisão. Talvez haja até outros nomes com perfil jurídico mais amplo, mas, entre os nomes sugeridos pelo presidente, ele parece o mais preparado”, disse a senadora.
No caso de Mendonça, também podem surgir durante a sabatina outros temas que estão sendo citados em campanhas contra a sua indicação (feitas nas redes sociais e por grupos organizados). Em carta endereçada aos senadores, entidades que representam grupos específicos de juízes, promotores, defensores públicos e policiais pediram a rejeição do nome do advogado-geral.
Entre os argumentos citados está o fato de o presidente ter dito que indicaria alguém “terrivelmente evangélico” para o cargo, requisito considerado inadequado pelas entidades. A carta também cita ocasiões em que Mendonça, como advogado-geral da União, citou trechos da Bíblia para defender a realização de cultos durante o isolamento social. São mencionadas, ainda, investigações contra jornalistas e críticos ao governo feitas durante sua gestão como ministro da Justiça, com base na Lei de Segurança Nacional.
Após a indicação, ele fez visitas a alguns senadores. Os parlamentares que falaram à reportagem sobre o indicado ressaltaram a qualificação técnica e o currículo de André Mendonça. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) disse que conversou com o indicado e que confia na sua capacidade para ocupar o cargo. Ele informou que recebeu o currículo de André Mendonça, mas ressaltou que têm mais peso as conversas que teve com o indicado.
“Ele não mostrou preocupação em relação a possível questionamento da oposição, na sabatina, em relação a sua identificação religiosa. Acho que a oposição vai marcar posição mais em relação a decisões dele como ministro da Justiça. Mas, nas conversas com senadores, sinto que seu nome tem menos resistência do que teve o ministro Kassio (Nunes Marques)”, avaliou Plínio.
O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) declarou que o Senado fará uma sabatina rigorosa, mas também afirmou que o currículo e o histórico de Mendonça não deixam dúvidas de que ele tem os requisitos necessários para o cargo. “Com certeza ele será um defensor da nossa Constituição. No Senado, faremos uma sabatina rigorosa, mas ele tem todas as credenciais para ser aprovado”.
O líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), lembrou que a prerrogativa de fazer a indicação é do presidente da República, tendo como um dos critérios o notório saber jurídico. Segundo ele, André Mendonça tem qualificação técnica e experiência suficientes, mas a decisão caberá aos senadores.
“O que se observa é que André Mendonça ocupou cargos de relevância no campo jurídico, que o credenciaram para demonstrar o notório saber da área, o que legitima a sua indicação. A votação é feita de forma secreta entre os 81 senadores, e o que a gente pode adiantar é que, dentro da bancada do PSD, a maioria tem simpatia pelo nome do indicado”, disse Nelsinho.
Também ouvido pela Agência Senado, Luis Carlos Heinze (PP-RS) ressaltou a formação e a experiência do indicado, além da boa relação com o presidente da República. “André Mendonça é uma pessoa preparada, alinhada com o presidente Bolsonaro, tem interlocução com ministros do STF, chefiou a AGU de forma muito competente e chegou assumir a pasta da Justiça. Ele é doutor em Estado de Direito e governança global, mestre em estratégias e políticas de integridade anticorrupção, tendo estudado na Espanha. Possui formação e capacidade para o cargo”, falou Heinze.
Além do nome de André Mendonça, outras indicações ainda precisam ser decididas pelo Senado no segundo semestre. Uma delas é a recondução do atual procurador-geral da República, Augusto Aras. O mandato à frente da Procuradoria-Geral da República termina em setembro, mas a indicação já foi encaminhada pelo presidente ao Congresso.
Além das duas sabatinas, também estão pendentes outras 11 que ainda precisarão ser feitas pelas comissões. A maioria delas, no total de sete, é de indicações para o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). As outras indicações são para embaixadas do Brasil em outros países e para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Muitas das indicações que estavam pendentes foram votadas em julho, em uma semana de esforço concentrado semipresencial feita pelo Senado. Além das sabatinas nas comissões, houve a aprovação de 31 indicações em Plenário. Foram aprovados nomes para representações do Brasil no exterior, Banco Central, agências reguladoras, Superior Tribunal Militar (STM), Tribunal Superior do Trabalho (TST), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e Instituição Fiscal Independente (IFI), entre outros.
Outros 12 nomes já passaram pela fase das sabatinas, mas ainda precisam da aprovação do Plenário. Essas indicações são para o CNMP, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), além de indicações para representações do Brasil no exterior.
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